27.04.05
Fragmento 17 - As vezes não chega
Angel-of-Death
Acho que por vezes me esqueço de certas coisas, de fazer certas coisas, ou mesmo de dizer, mas nunca sei o quê, mesmo apesar desta sensação de que algo faltou, não consigo perceber o que foi, alguma coisa escapa á minha atenção ou então não estou atento a tudo, como sempre penso estar.
Passo dias e dias, noites mal dormidas, sempre pensando no que correu mal, ou bem, no que fiz, no que disse, no que ficou por dizer e não encontro nada, nada que não tenha dito, que não fosse melhor ter calado, nunca foi certa a latura, nunca valeu a pena, palavras não dizem tudo, um olhar vale mil palavras, um gesto mil olhares, um beijo, um beijo muitas vezes não valeu foi nada, o sentimento não existia e quando é assim, o vazio apodera-se de nós, passa a ser um acto forçado e sem significado, sem sabor, uma obrigação, e o sentimento seguinte é horrível, quase de nojo, de ódio. Acho que cheguei a odiar-me a mim mesmo, por ser tão fraco, por ceder a todas as vontades acima da minha propria vontade, mas um dia tudo deixa de poder acumular-se, o balão enche demais e explode.
Nesse dia o céu desaba, todos os segredos mais profundos são revelados, toda a sujidade de uma relação podre e doentia é posta a luz do dia, e ás vezes, a verdade custa, mas custa bem menos quando já se sabe dela e é só um pretexto para terminar com tudo de uma vez.
Admito que os erros não foram nunca só dos outros, eu errei e erro muito, nunca o neguei, ninguem é perfeito e muito menos eu, mas há erros imperdoáveis, que só são cometidos por quem quer, de livre vontade, como muitas vezes eu os cometi, mas assumi as consequências, não enganei, fui fiel aos meus principios, detesto mentiras e as verdades, quer magoem quer não, sao para serem ditas, prefiro sofrer com a verdade, do que sofrer por viver na dúvida, ou viver uma mentira, é bem pior, mais triste, faz-nos perder a confiança nas pessoas. Não só numa, mas no geral, começamos a julgar todos pela mesma regra, sem ouvir, sem abrir o coração, sem conhecer, sempre com medo de amar, com medo de se entregar, com medo do mundo, criando uma jaula em volta do coração, até o sentirmos frio como pedra, para não deixar escapar nem entrar nenhuma emoção, nenhum sentimento.
Uma vida triste e sem cor, sem alegria, sem amor, insípida, sem qualquer razão de ser, sem sentido, sem tantas outras coisas que tornam a vida merecedora de ser vivida, porque ninguem vive para sempre e se não aproveitarmos a vida enquanto a temos, depois será tarde demais. O tempo não pára para ninguem, muito menos para os que não vivem, que deixam tudo passar-lhes ao lado, ao longe, mas tão perto que quase lhe conseguem tocar, mas não esticam o braço, demasiado passivos e acomodados, estáticos, sem vontade própria, ou com vontade de não a ter, não viver, só deixar passar o tempo, andar, o correr dos dias, das noites, dos anos, até fecharem os olhos e um vazio enorme os invadir e se apoderar das suas míseras existencias para toda a eternidade.
Sete palmos abaixo dos nosso pés, de gente que respira a vida, que lhe dá um sentido e a tenta tornar suportável...
By: Angel-of-Death
In: "O espelho e eu"