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thefallenangel

thefallenangel

20.06.05

Fragmento 25 - Um segredo...


Angel-of-Death

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A tua cor deixa-me doido, não me consigo afastar, o teu gosto o teu cheiro, coisas que devo renunciar. Mas não consigo, estas dentro de mim, certos ou errados, quem nos pode julgar culpados, por ceder à tentação.
Nenhum de nós jamais pediu tal sina, não fizemos de proposito, e nao sabemos lidar com o que se apodera de nós.
Não consigo, afasta de mim esse corpo, não me obrigues mais a desistir, pois sabes que sou fraco, sabes que não resisto ao teu carinho, nem tu consegues resistir.
Ainda não compreendo como fomos capazes, como somos, sem sentir remorsos, sem pedir licença, sem respeito por ninguém, o sentimento veio e tomou, nao mais saiu e cá ficou, talvez para minha desgraça e tua, mas a vida continua, e eu sem saber porquê.
Sempre que penso doi-me, sempre que esqueço nao consigo, o meu sono atormentado, nao me deixa mais dormir. Não vás, mas nao quero que fiques, nao sei mais o que fazer.
Sei que parte da culpa é minha, mas nao posso evitar, não quero estar contigo nem te quero afastar.
Parece que nesta minha cabeça, um sentimento entrou, quando ja la havia outro, complicou a minha vida, complica a minha vida, mas o problema é que não sei se quero que ele vá embora, não sei se o outro ja nao foi embora, nao sei o que fazer, nao sei como fazer para descobrir, sei que nao te quero ver partir, e nao te quero ver chegar, porque me doi.
Eu sei do teu segredo e esta seguro comigo, estaria seguro sim se tivesses um segredo, sei que nao o tens, mas eu sei que segredo é, e nao o vou contar. Se o teu segredo existisse seria igual ao meu, mas nao existe, porque o teu segredo sou eu.

By: Angel-of-Death
In: "O espelho e eu"

18.06.05

Fragmento 24 - Hoje pensei...


Angel-of-Death

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Hoje acordei, na certeza de não saber nada, não sei quem sou, não sei quem fui, não sei quem somos, quem quisemos ser.
Não sei sequer se existimos, se podemos existir, se a nossa propria existencia é uma verdade ou uma mentira.
Hoje, pensei, pensei em nós, não pensei em nada, pensei em tudo o que não me lembro agora. Pensei naquilo que podiamos ser, naquilo que nunca fomos, no que nunca houve, ou não quisemos ver.
Só pensei, pensei que podia pensar em ti, sem ter de recordar tudo, tudo o que nunca quis lembrar, nem esquecer, tudo o que um dia não fomos, nem quisemos ser, porque não havia espaço para nós dois.
Não cabemos os dois, onde cabe o mundo inteiro.

By: Angel-of-Death
In: "O espelho e eu"

15.06.05

Fragmento 23 - Um passar...


Angel-of-Death

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Envelhecer, certo, é certo que os anos passam por nós, a correr, por vezes, lentamente, quando o momento assim o exige, quando a alma nos comanda, qaundo nos guia.
A morte é inevitável, a única grande certeza da vida, tão grande como a própria vida, que nos dá liberdade para decidir, caminhar pelos nossos próprios passos, errar, erguer a cabeça, aprender e seguir em frente. Por vezes breve, quando a morte nos toma, o que a vida nos dá, ceifando tudo, indescriminadamente, deitando por terra todos os sonhos e esperançãs, a busca constante de uma vida melhor, saqueada, na derrota, da única guerra que a vida não pode vencer, pode lutar, como lutavam os índios, incessantemente contra o extremínio do seu povo, com garra, com vontade e imensa coragem, mas por muitas batalhas que vença, o final da guerra está já traçado, a morte acabará por vencer pelo cansaço, pela persistência, porque tempo não lhe falta. Por toda a eternidade irá conquistar, conquistar corações e mentes fracas, alguns até se entregam, sem motivo aparente, sem vontade de viver, sem vontade de aprender a vida, sem nunca procurarem a felicidade. Estúpidos. A vida é um dom, a maior riqueza que poderiamos receber, todos os sentidos, recebendo sensações a cada instante, agradáveis, ou não, são elas que nos fazem sentir vivos, felizes ou tristes, sempre vivos, e é essa a razão da nossa existência, viver, o mais que se puder, porque um dia o corpo morre, e só o espírito vive, vagueando pelos lugares que outrora podias tocar, as flores que podiamos cheirar, o amor que podiamos dar ou receber, a vida feliz que poderiamos ter...

By: Angel-of-Death
In: "O espelho e eu"

15.06.05

Fragmento 22 - O meu final...


Angel-of-Death

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Um dia, tão igual aos outros, tão azul, tão sereno, cheio de luz, cheio do cantar dos pássaros, do rizo das crianças quem brincam, o choro daqueles que me vêm.
Como sempre estou no parque, adoro ver as crianças, adoro vê-las sorrir, tento recordar-me da criança que nunca fui, do adulto que nunca vou ser, deste estado de letargia, desta constante permanencia. Nunca me irei conformar, com o facto de que não posso envelhecer, a ideia parece incencebível, para alguém que está em contacto permanente com a humanidade, alguém que vive no meio deles, que se parece com eles, mas que só alguns vêm e só por momentos, breves, sempre muito breves.
Sou um anjo, o unico anjo que vive na terra, o unico que tem como obrigação falar com os mortais, mas só na hora das sua morte, os ultimos minutos, eu roubo o ultimo sopro de vida dos seus corpos moribundos e levo as suas almas, para o além, paraíso, inferno, purgatorio, quem sabe, quem acredita...
E imaginando, depois de tantos anos fazendo o mesmo serviço, fica-se no minimo curioso, em relação à vida terrena, ela fascinava-me, queria vê-la de mais perto, senti-la correr nas minhas veias, quebrar todas as leis e tornar-me mortal, mas, tinha de aproveitar um momento de distracção, teria de apoderar-me de um corpo sem que niguém percebesse. Assim foi, a minha proxima vitima tornou-se uma parte de mim e até hoje nao mais deixei este corpo.
Quando o tomei era ainda uma criança, não merecia deixar a vida tão cedo, assim restituí.lha, dei-lhe de novo o sopro da vida que era meu dever roubar, e com ela, o meu espírito.
Não mais tive de entrar na vida de ninguém e dizer, " quando a morte bate a porta, há que deixá-la entrar, é hora de deixar este mundo, deixar um corpo que já não nos serve, e seguir em frente".
Queria ver este meu novo corpo crescer, ser feliz, talvez um dia sentir o amor, absorver todas estas sensações novas, e como era bom poder sentir-me vivo, poder sentir o calor do sol, a chuva no meu rosto, o vento nos cabelos, quantos anos tinha eu passado a roubar todas estas coisas, sem saber o que realmente perdia. A alegria de poder crescer, de poder sentir, de poder viver. Iria por fim envelhecer, junto com este meu novo corpo, como um mortal.
Então senti, senti um leve frio escorrendo pelo meu pescoço, húmido, e cada vez mais intenço. Fui abrindo os olhos e a chuva caía sobre o parque, os baloiços vazios, o eco do riso das crianças que nao estavam lá mais, o meu despertar frio e molhado, naquele banco de jardim, tentei levantar-me, mas as minhas roupas pesadas da água eram demais para mim. Depois de 80 anos e uma vida cheia de vigor, nem conseguia levantar-me de um banco de jardim.
Deixei-me ficar mais uns momentos, tentando recuperar forças para me levantar ,fui fechando os olhos devagar , e por uns momentos, consegui vê-lo, não ouvi o que me disse, mas nunca mais abri os olhos...

By: Angel-of-Death
In: #O espelho e eu"

13.06.05

Fragmento 21 - Vida


Angel-of-Death

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Ás vezes penso, não muitas vezes, mas ás vezes. Penso se não estarei aqui a mais, interrogo-me sobre a minha existência, o meu propósito aqui neste mundo.
Sou sonhador, optimista, bem disposto, realista, sou como o mundo me fez, como me criaram, um cristão ateu, sem credo definido, pensamento livre sem abrigo, sem grades para me prender, sem cordas para me amarrar, voa livre e sem destino, este pensamento meu.
Mas por vezes, dou comigo triste, sem razão aparente, sem motivo que o valha, uma tristeza latente, quando a alegria me falha, nem o dia de sol quente, mar azul, fantasia, me traz de volta, da minha melancolia.
E fico, a ver quebrar, onda após onda, maré que sobe e toma a praia para si, ondas de espuma que se misturam na areia, as pequeninas bolhinhas de ar, que se formam quando a água é devolvida ao mar e deixam para tras uma praia perfurada e borbulhante. Já ninguem repara nessas coisas, tão naturais, que nao as apreciamos, nem agradecemos o privilégio de as poder contemplar, e já ninguém liga.
Acho que nem mesmo eu, apesar de perder muito tempo a observar pequenas coisas. Mas e perder porquê? Porque falo eu em perda de tempo?A procura do saber não é nunca perda de tempo, a busca da razão das coisas, é tudo o que nos resta, neste constante tentar, esta busca insessante de uma vida cheia, porque pior do que não viver, é morrer na estupidez da ignorancia.
Mas quantos assim perecem, sem nunca o saberem, qual é afinal a definicão de conhecimento, quem me explica, o que é para uns, nao diz nada a outros, e por vezes nao diz nada a ninguém. Somos pobres, muitos de nós, pobres de espirito, pobres de saber, mas porque assim o quisemos, só nao aprende quem assim o deseja, o conhecimento mais importante é gratuíto, a vida.

By: Angel-of-Death
In: "O espelho e eu"

08.06.05

Fragmento 20 - Final de tarde


Angel-of-Death

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Enquanto o sol se põe, e vai levando embora, devagarinho, o resto do dia, penso em tudo aquilo que fica para trás.
Os risos ecoam ainda nos meus ouvidos, a fadiga de mais um dia de trabalho, deixa de me pesar nos ombros e vai, vai para longe.
O sol vermelho e bem grande, mergulha nas águas claras do oceano, o barulho das ondas quebrando na areia, embala os meus sentidos, o meu corpo deixa levar-se pelo som calmo do fim da tarde, pelas cores alaranjadas que pintam tudoem meu redor.
Como num quadro, numa fotografia, tento captar cada pormenor, cada minuto deste final.
Nem noite nem dia, o momento perfeito da morte de um, e nascimento de outro, a união única e especial, que podemos agarrar todos os dias das nossas vidas, mas que muitas vezes não nos damos a esse trabalho, quase ninguém pára para apreciar as coisas belas da vida.
Sinto-me só, num momento em que deveria ter o mundo inteiro comigo, parece que só eu vejo esta paisagem linda, que se repete vezes sem fim. Existia antes de mim e existirá depois, que a minha noite se levantar.

By: Angel-of-Death
In: " O Espelho e eu"